Em cada canto desse país tem camponeses cultivando a terra, cuidando da natureza, dos recursos naturais, alimentando o povo brasileiro e fazendo luta. Na Bahia, não é muito diferente, onde os camponeses e camponesas do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) tem desenvolvido juntamente com a equipe do Projeto Semeando Soberania: produção de sementes crioulas no Estado da Bahia, o resgate e multiplicação de sementes crioulas.
O projeto trata da produção e multiplicação de sementes crioulas a partir de campos irrigados. São 16 campos de sementes, cada campo é composto de 2 hectares, num total de 32 hectares de áreas irrigadas com sementes crioulas plantadas, 8 campos no Sudoeste e mais 8 campos na região Norte da Bahia.
“Neste momento está sendo instalado o sistema de irrigação nos 16 campos de resgate, produção e multiplicação de sementes crioulas que estão em estágio diferentes de implatação”, relata o camponês e dirigente do MPA, Leomárcio Silva.
Momento de formação dos camponeses e camponesas do MPA, bem como, da equipe do projeto. Foto: MPA
“Inicialmente nestes campos estão sendo multiplicadas as sementes de milho e feijão, mas o objetivo do projeto nos dois territórios é consequência do que a gente já vem trabalhando MPA é fazer o resgate e multiplicação das sementes crioula, da Soberania Alimentar, ampliar a agrobiodiversidade promovendo formações na produção irrigada das cultivares, assim como, seleção das sementes e todo um processo de formação e por último, iremos fazer o cadastro destas sementes”, explica o engenheiro agrônomo e militante do MPA, Claudiano Souza.
A expectativas das famílias camponesas é poder multiplicar essas sementes que foram identificadas, levando em consideração os seguintes fatores, qualidade, produtividade, resistentes e de melhor sabor para a alimentação. “A grande expectativa delas [das famílias camponesas] é ter em grande quantidade e qualidade essas sementes para serem multiplicadas, e poder daqui para frente, apropriar-se desse processo do que é realmente produzir sementes”, explica Claudiano.
É comum as famílias referirem-se ao projeto com muito carinho pois tem proporcionado o resgate de diversas variedade. Outro elemento que deixa esses camponeses muito contentes é ter sua produção de sementes, em especial o milho, livre de transgênicos, relata Claudiano que é um dos coordenadores do projeto. “Os campos de sementes crioulas são importantes porque resgata a riqueza e a cultura que são as sementes crioulas que estão nas mãos dos camponeses, que não podem perder para os que visam o lucro, já que o camponês produz pensando na sua alimentação e na preservação”, explica o mantenedor e guardião de sementes crioulas, Zelio Calmida.
Todo o trabalho tem sido construindo em forma de mutirão. Foto: MPA
É importante destacar que as famílias que compõe o projeto têm níveis diferentes de compreensão técnica e política sobre o tema, mas uma coisa é unanime, a expectativa de consolidar no processo de execução do projeto áreas livres de transgênicos nas comunidades e que as sementes crioulas fiquem no próprio território.
“Há um bom tempo os camponeses e camponesas da Bahia vinham discutindo e buscando forma de implementar uma Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS), porém não tínhamos muitas experiências coletivas, mas sim, familiar. Esse projeto permite criar essas experiências mais coletivas de produção de sementes, para além de fomentar esse debate da importância das sementes, o debate político de resgatar e cultivar essas sementes crioulas, da autonomia, para uma ação prática que é o próprio resgate e a multiplicação dessas sementes”, explica Claudiano.
Participação da juventude no construção do projeto. Foto: MPA
Para o MPA, além da expectativa demandante da produção, também há uma expectativa organizativa dessas famílias, de articulação nas comunidades e a nível estadual sobre as sementes. Essa construção torna-se também um processo de formação e animação das famílias no trabalho com as sementes. Outro elemento que é apontado e que traz muitos desafios, é ampliar esse debate para os territórios e para o próprio governo Estadual, permitindo que essas famílias camponesas possam produzir essas sementes crioulas, mas também distribuir na própria comunidade e região.
“A proposta é que possamos produzir as sementes e distribuir na comunidade, e no próprio Estado para que o Estado tenha sementes crioulas da região e possa distribuir para outras famílias. Então, a grande importância desse projeto para nós é poder garantira a produção de sementes crioulas, que possa gerar um processo formativo, amplo debate no Estado sobre a importância de produzir sementes crioulas, sua conscientização entre as famílias envolvidas, mas também das famílias próximo dos territórios que de alguma forma estejam próximas e junto ao Estado, criar uma dinâmica com ação efetiva e participativa de distribuição das sementes para as famílias camponesas, priorizando o resgate, multiplicação e comercialização das sementes crioulas.
O trabalho é desenvolvido pela Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa da Bahia (CPC Bahia), entidade ligada ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Por Comunicação MPA