Parte das 18 comissões que compõem o processo organizativo do V Congresso da CLOC se reuniram na noite de ontem, 5 de outubro, para informar todo o processo que já pôde se constituir até aqui e os passos que ainda faltam para a realização do Congresso.
Com um maior número de companheiros e companheiras de vários países da América Latina, as comissões ganham mais força na construção de um grande espaço camponês, em que se desenvolverá o Congresso.
Contexto política da CLOC e da realização de seu V Congresso
Luis Andrango, presidente da Federação Nacional de Organizações Camponesas, Indígenas e Negras (FENOCIN), saudou a todos os presentes, principalmente os que não são do Equador, reiterando que agora o peso da importância da realização de um evento desse porte poderá ser dividido com mais companheiros e companheiras dos mais diversos países. Agradeceu, ainda, aos que fazem parte da CLOC por todo o trabalho até agora realizado.
Luis relembrou, também, do que foi discutido na V Conferência Internacional da Via Campesina, realizada em Maputo, Moçambique, em outubro de 2008, quando se discutiu sobre reerguer a CLOC e sobre a necessidade de se manter um espaço que reunisse as características do continente. Para tanto, uma reunião foi realizada em abril do ano passado, em Cuba, com uma grande presença das organizações, relembrando o peso histórico da CLOC e a sua importância dentro da Via Campesina no continente. Nesse momento, todas as organizações assumiram o compromisso de dar mais força a CLOC. O que mais marcou essa reunião, segundo Luis, foi o fato de ter sido possível perceber que a CLOC ainda possuía um peso politico dentro do continente, coerente com os princípios da Via Campesina e de outras organizações continentais. Ainda nesse espaço, ratificou-se os princípios da CLOC, seu caráter anti-imperialista, anticapitalista, e sua luta em busca de uma sociedade socialista, com igualdade e prezando a diversidade.
Ainda nesse debate em Cuba, percebeu-se, depois de algumas análises, que havia uma dívida histórica com a região andina e, após avaliar alguns elementos, viram que o Equador possuía condições de sediar esse evento. Após essa decisão, decidiu-se fazer a transferência da secretaria da CLOC para o país. Uma reunião foi realizada no Equador, onde além da consígnia desse V Congresso, se firmou, também, um compromisso de que o Congresso não se limitaria aos dias 8 a 16 de outubro, mas a todo esse processo desde Cuba, como um processo de mobilização permanente, os países e as organizações, preparando-se para esse momento maior.
Loyda Olivo, dirigente do Setor de Mulheres da FENOCIN, apresentou os representantes políticos de cada região da América Latina, mostrando a diversidade de países e organizações que já se encontram em Quito. Itelvina Masioli, do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Brasil, frisou que mais do que apresentar as comissões e o trabalho desenvolvido até aqui, esse era um importante momento para colocar que “nosso congresso não é apenas um evento em si, mas um processo continental. Inicialmente, quando discutíamos o contexto em que seria realizado o Congresso, olhávamos o mundo, a crise do capital que já dava sinais, e as metamorfoses pelas quais passavam esse sistema. Temos, dessa forma, que analisar o papel da América nessa conjuntura”. Segundo Itelvina, há varias crises no mundo, crise do capital, crise alimentar, ética e das instituições do capital. O Congresso da CLOC, portanto, também será marcado por esse contexto das crises no mundo. “Frente a tudo isso, portanto, temos que compreender como se marca a questão da luta de classes. Como na Europa, onde acompanhamos todas as manifestações que marcam o fim do estado de bem estar social”. Itelvina ainda destacou a situação do continente africano que, nesse momento, vive a revolução verde. Os movimentos e organizações da CLOC precisam, segundo ela, estar atentos ao papel disso e de como isso vai afetar esse continente, percebendo, portanto, a necessidade de fortalecer o movimento camponês e a Via Campesina nesse continente. “Esse momento para a África pode ser pior do que foi para nosso continente e para a Índia, nos anos 70. Pode ser um desastre bem maior”, afirmou Masioli.
Além disso, olhando para o nosso continente, podemos perceber que ele é o que oferece para o capital as melhores condições do mundo para a instalação de grandes projetos. Acompanhamos, também, o contexto político em que estamos inseridos e o atento imperialista sobre os latinoamericanos. Vemos o golpe de Honduras, a tentativa frustada de golpe no Equador, podemos acompanhar a todo momento tentativas na Bolívia, Venezuela, Paraguai e outros países também. A direita vem com força para tentar retomar os governos na América Latina.
Segundo Itelvina, “viemos com uma forte mística de retomada da articulação continental, vinculada à luta mundial. Há necessidade de termos uma Via Campesina Internacional muito forte, e isso só é possivel se nossos países e nosso continente retomarem essa capacidade de articulação continental”.
É um momento de sabedoria política e capacitação pedagógica para desenvolvermos mais estratégias, na perspectiva da integração dos povos e de um projeto popular de agricultura para a nossa sociedade, baseada na soberania alimentar e na soberania dos povos, concluiu Itelvina.
Já Oswaldo León, da Agência Latinoamericana de Informações (ALAI), destacou que a conjuntura atual no Equador é de disputa de espaço, política e de projetos para o país. “As crises tem grande significado pra o tema da agricultura, como a crise alimentar, que se desdobra em crises sociais”, frisou ele.
Informes sobre todas as comissões foram dados a todos os participantes desta reunião. O momento, também, foi de acolhimento por parte da equipe da CLOC no Equador. Com esse espírito, de integração continental e lutas conjuntas, segue a organização do V Congresso da CLOC.