12 de março de 2014
Cerca de 1000 mulheres do Movimento Sem Terra, MST, e do Movimento dos Pequenos Agricultores, MPA, realizaram o 9º Encontro Regional de Mulheres da Via Campesina, na região Centro do Paraná, na cidade de Diamante do Sul. Além de discutir sobre a Produção Saudável nas Mãos das Mulheres Camponesas, organizaram um almoço partilhado com a produção agroecológica da região, realizaram atividades culturais e, marcaram o dia 8 de março de 2014 com um ato na praça do pedágio de Nova Laranjeiras, na BR 277, abrindo as cancelas e denunciando o abuso do governo Beto Richa que com o reajuste dos pedágios, coloca ao Paraná o status de pedágio mais caro do mundo.
Semeadoras, camponesas, bruxas, lutadoras, feministas, trabalhadoras são definitivamente sinônimos de mulher, agricultura, alimentação e biodiversidade. “Foram às mulheres que inventaram a agricultura e seguem sendo as camponesas e indígenas, quilombolas, assentadas e sem terra, que carregam esse legado, com curiosidade, necessidade, criatividade, paciência, sabedoria e trabalho coletivo, desenvolvendo e cultivando uma diversidade de sementes que estão na base da alimentação de toda a humanidade”, afirma Rosieli Ludtke, da direção nacional do MPA, ao refletir sobre o tema do encontro.
Rosieli declara que é agricultura, ex – produtora de fumo com muito orgulho, em processo de transição agroecológica, planta mandioca, batata, arroz, feijão, frutas, verduras e uma imensidão de alimentos saudáveis, que são comercializados pelo PAA e PNAE na cidade de Paraíso, no Rio Grande do Sul, onde vive.
Compartilhando com outras mulheres, que muito de suas contribuições e tarefas permanecem invisíveis, apesar de serem quem criou e ainda ajudam manter as sementes, muitas mulheres não têm acesso a terra, à moradia, saúde, educação, trabalho, renda, cultura e muitos direitos fundamentais.
A discriminação às mulheres e de gênero é útil aos que detém o poder. Assim se mantém uma sociedade com base na exploração e dominação que cria a ilusão de que é um destino colocado para as deficiências e dificuldades de mais da metade da população. Desenvolvendo um círculo de relações, demais mecanismos são utilizados para calar as oprimidas e oprimidos, como a violência que, em todo mundo as mulheres sofrem, no Brasil, a cada 15 segundos uma mulher é espancada.
Também são mulheres que em muitos lugares tem conhecimento sobre as plantas medicinais e a medicina alternativa, que cuidam da saúde da família e da comunidade, com capacidades e sabedorias importantes para a sociedade, mas que os poderosos tentam dominar. O legado das bruxas, benzedeiras, curandeiras, rezadeiras, e da homeopatia segue partilhando conhecimento e levando vida para os que não têm acesso ao direito básico da saúde.
Reconhecer a produção camponesa de alimentos agroecológicos adquire mais relevância frente à crise climática, ambiental e de produção de alimentos, que tem sua raiz na maneira mercadológica imposta pelas empresas transnacionais, como a Monsanto, Bunge, Cargil, Bayer entre outras baseadas nas sementes transgênicas e contaminadas de agrotóxicos para servirem a nossa mesa. Esse processo reafirmado com o agronegócio, avança na privatização da terra, da água, dos minerais e de toda a biodiversidade. Expulsando as famílias do campo, com resquícios no trabalho escravo, esse modelo não quer um campo com gente, não tem espaço para mulheres e jovens.
Por isso as mulheres continuam uma jornada de lutas que recoloca em pauta a necessidade de uma reforma agrária popular para desenvolver condições efetivas de participação das mulheres. Enfrentando o capital, o agronegócio e as formas de opressão que atingem o campo e a cidade, é necessário desenvolver políticas específicas para as mulheres; autonomia econômica e política. Combater e denunciar toda e qualquer forma de opressão e mercantilização da vida, do corpo e dos bens naturais, e aliar-se com as mulheres trabalhadoras da cidade, para que juntas possamos transformar os rumos da história e construir novas formas de relação e valores e, um mundo sem violência e opressão.