Brasil: Seminário debate desafios para a luta popular na energia em Sao Paulo

Organizado pela Plataforma Operária e Camponesa para a Energia, evento reúne pesquisadores e representantes de movimentos sindicais e sociais

Pesquisadores, trabalhadores ligados à cadeia produtiva da energia, atingidos por barragens e camponeses se reúnem nesta sexta-feira (7), em São Paulo, no seminário nacional “Bases e desafios para a luta popular na energia”. Organizado pela Plataforma Operária e Camponesa para a Energia, o encontro pretende realizar um diagnóstico crítico da indústria da energia no contexto nacional e internacional, além de identificar os desafios para a luta popular.

No primeiro espaço do seminário, ocorrido durante a manhã, houve a apresentação de elementos da conjuntura política nacional e internacional, e sua interferência na área da energia. Compuseram a mesa os professores Carlos Vainer, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da UFRJ, e Igor Fuser, do departamento de Relações Internacionais da UFABC.

Em sua explanação, Vainer apontou a crise financeira de 2008 como o marco de abertura de um novo período histórico. Até então, os países centrais mantinham um constante crescimento econômico e garantiam internamente mínimas garantias aos cidadãos por meio de políticas de bem estar social.

Como efeitos colaterais dessa crise do capitalismo mundial, houve uma desaceleração global da economia, um aprofundamento da exploração sobre os trabalhadores e uma reversão no movimento até então tipo como definitivo: a globalização. Como exemplo disso, Vainer citou o Brexit, que retirou o Reino Unido da União Europeia.

Já Fuser aponta que o período histórico atual se arrasta desde o fim da Guerra Fria, com a queda do muro de Berlim. De acordo com o professor, desde 1991 os Estados Unidos tentam perpetuar sua supremacia mundial, por meio do enfrentamento a qualquer Estado que se configure como uma ameaça. Todavia, um país tem mostrado essa estratégia não foi totalmente bem sucedida. “O plano dos Estados Unidos não deu certo porque a China aparece como uma ameaça a sua supremacia dentro do seu próprio sistema, que é o capitalismo globalizado”, explica Fuser.

As consequências exatas dessa reconfiguração na geopolítica mundial ainda são incertas, de acordo com os professores. Entretanto, já é evidente a tentativa de manutenção do poder estadunidense no mundo por via militar. O exemplo mais recente disso ocorreu nessa manhã, com as notícias do bombardeio dos EUA na Síria, colocando em outro patamar o conflito com a Rússia.

Energia e desenvolvimento nacional

Segundo Fuser, dentro dessa conjuntura internacional, o Brasil vive as agruras da tentativa dos Estados Unidos de retomar sua influência sobre os países que se colocaram, de alguma forma, como um obstáculo nos últimos anos.

Entretanto, Fuser destaca que muitos projetos que estão em pauta atualmente são anteriores ao governo golpista de Michel Temer. Um exemplo é o projeto de construção de 37 hidrelétricas na Amazônia, que já estavam no planejamento energético do governo de Dilma Rousseff.

A partir dessa afirmação, Fuser destaca que é necessário abrir as “caixas pretas” dentro da esquerda, ou seja, discutir certas questões que ficaram intocadas nos últimos anos devido ao desenvolvimento dos governos petistas.

Também nesse sentido, Vainer expôs os dados que mostram a duplicação da utilização de água e energia na indústria na última década, apesar dessa sofrer uma retração na participação total do Produto Interno Bruto (PIB). “Isso demonstra que nós estamos exportando água e energia por meio de produtos primários. Para discutir as bases para uma produção de energia popular, precisamos rediscutir o modelo de desenvolvimento brasileiro”, opina Vainer.

Apesar de o atual governo estar realizando uma entrega do patrimônio nacional de uma maneira rápida e acentuada, ambos os expositores afirmaram que não houve uma alteração estrutural do modelo energético nos últimos governos, que continuaram voltadas para o mercado.

Seminário

O seminário continua nesta tarde, com uma mesa sobre o modelo energético, com a presença do geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor da Petrobrás, Paulo Metri, integrante do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro e Luiz Pinguelli Rosa, da Coppe/UFRJ. 

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