Logo cedo a casa do seu Luís e da Dona Maria Sibeauer na comunidade São Donato, em Saltinho, se encheu de gentes, mais de 60 pessoas entre crianças e adultos. Iniciava mais uma dia de trabalhos, um pouco diferente dos outros, isso é verdade. Um dia de trocas, de partilha de conhecimento e alimentos saudáveis entre os camponeses e camponesas do MPA no Oeste catarinense.
Camponeses e camponesas que trocaram a lida na lavoura, ou roça e com o gado leiteiro para participar de duas Atividades Coletivas, organizada pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), por meio do Projeto Ater Agroecologia. O objetivo, debater sobre Panificação Nutracêutica, Agroecologia, podas e a importância da Alimentação Saudável.
Foto: Adilvane Spezia/MPA
Após as apresentações, em poucos minutos as mulheres, alguns homens passavam por ali para uma olhada e outra, já estavam apostas de avental, tocas, receitas e ingredientes na mão, prontas para literalmente colocar as mãos na massa.
Como o grupo era um tanto grande, a facilitadora e militante do MPA, Alcione Seghetto, propôs o trabalho em quatro grupo. Cada grupo fez um receita, sempre regado de muita prosa e troca de conhecimento. Afinal, ali não eram apenas mulheres que buscavam aprender novas receitas, sobretudo, mulheres camponesas que trazem consigo o conhecimento e as técnicas passadas de geração em geração, adquiridas suas mães e avós, uma ancestralidade refletida nas mão ágeis e na prosar.
Almoço já com pão quentinho. Foto: Adilvane Spezia/MPA
Com o panificados nas formas e fornos, uns em fase de crescimento, outros já assando. O almoço coletivo foi servido, desta vez, feito pelos companheiros entre um jogo e outro de cartas e uma moda de viola.
A galinha ou arroz com galinha, carne com mandioca, suco, verduras e frutas foram trazidos pelas famílias. Não demora, e os primeiros pães ficaram prontos, bem na hora, temos pão quentinho de mandioca para o almoço.
De tarde a lida nas cozinhas continua, uma não foi suficiente para tamanha experiência e troca de saberes, sabores e aprendizados. Os companheiros seguiram para o pomar, a fim de realizarem a atividade coletiva de podas em frutíferas.
Sobre a atividade de podas, o Tecnólogo em Agroecologia e militante do MPA, Leonel dos Santos Nascimento, explica:
Poda de pessegueiro na prática. Foto: Adilvane Spezia/MPA
“Para as famílias é importante ter o conhecimento da teoria e também da prática. Hoje conseguimos trazer esses elementos da prática no diálogo com os camponeses e camponesas e o porquê de estar fazendo as podas. Que eles [os camponeses] possam levar esse conhecimento das atividades coletivas para onde morram, melhorando a qualidade da planta, do fruto e também, dar um equilíbrio no Agroecosistema onde a família morra.”
Luana Carla Casagranda, Tecnóloga em Agroecologia e militante do MPA, destacou o trabalho desenvolvido por meio da Agroecologia. “A gente fez uma troca de conhecimento, ao mesmo tempo que levávamos algo para as famílias elas nos retornam com outros ensinamentos, a gente fica muito feliz de poder trabalhar nesse projeto. A Agroecologia eu vejo que é uma totalidade, tudo que envolve a vida está ligado a Agroecologia e por isso que ela é importante na nossa caminhada”.
Foto: Adilvane Spezia/MPA
Por sua vez, Alcione explica que a atividade coletiva não é apenas um curso ou atividade de panificados qualquer, trata-se da Panificação Nutracêutica que é a Ciência que utiliza nutrição para prevenção de doenças. Que segue na mesma linha da produção e consumo de alimentos saudáveis que o MPA tem debatido e construindo em todo país. Por isso sempre falamos, “que seu alimento seja seu remédio e seu remédio seja seu alimento”.
Chega a hora de compartilhar, degustar e avaliar as atividades do dia, entre uma proza e outra desatacou-se a facilidade e praticidade das receitas. “Bem produtivo, prático, fácil e saborosos. Queria fazer mais, mas não deu tempo, me senti em casa”, relata Janes Mazetto. “Eu observei que são muito práticas e que boa parte dos ingredientes temos em casa. Sem contar que o trabalho coletivo de mão em mão, vou levar a experiência e compartilhar com quem não pode vir”, comprometeu-se Dona Maria.
Alguns dos panificados. Foto: Adilvane Spezia/MPA
A mesa cheia de produtos, pães de abóbora e mandioca, pizza, esfihas, bolachas e cookies integrais, deixam evidente os trabalhos do dia. Servidos no porão da casa, entre uma bocada e outra é só escapar os olhos para fora e ver os pés de pêssegos, figos e nectarinas podados. E o companheiro Izair Magri, camponês e dirigente do MPA, avisa que a próxima Atividade Coletiva já está agendada para o próximo mês, e o tema abordado será aqueles que as famílias do Grupo de Base do Movimento definir.
Ao final das duas atividades coletivas as mais de 60 pessoas presentes puderam saborear os panificados. Como a produção foi farta, cada família camponesa presentes pode levar uma pouco para suas casas. E nós, pomos os pés na estrada de volta para São Miguel do Oeste.
Por Adilvane Spezia – Jornalista/MPA