Brasil: Grevistas de fome chegam ao 23º dia de resistência

Os militantes em Greve de Fome completam 23 dias de resistência na luta por justiça no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira (22). A solidariedade aos grevistas ganhou forte adesão dos movimentos populares do campo e da cidade. Entre as reivindicações apresentadas, os grevistas cobram a inclusão na pauta de votações do STF as ADCs, 43, 44 e 54, que questionam a constitucionalidade da prisão de condenados em 2ª instância. Conforme prevê a lei, nenhum brasileiro pode ser preso ou ter seus direitos políticos caçados, antes que sejam julgados todos os recursos.

Na manhã do 23º dia de greve, o ex-ministro José Dirceu, fez uma visita de apoio e solidariedade aos sete grevistas – Frei Sérgio Görgen e Rafaela Alves (do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA), Luiz Gonzdo aga, o Gegê (da Central dos Movimentos Populares – CMP), Jaime Amorim, Zonália Santos e Vilmar Pacífico (do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST) e Leonardo Soares (do Levante Popular da Juventude).

Em seguida, o pastor evangélico Ariovaldo Ramos, da Comunidade Evangélica Cristã Reformada e líder da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, também ressaltou seu total apoio ao ato dos grevistas. Ariovaldo Ramos leu um trecho do Sermão da Montanha – localizado no evangelho de Mateus 5 – onde o próprio Jesus Cristo disse que são bem-aventurados “os que têm fome e sede de justiça” (Mateus 5:1) e os “perseguidos por causa da justiça” (Mateus 5:10).

“Percebo que essa fome e sede de justiça que vocês têm os levou a se sacrificar, em busca de uma resposta para um povo sofrido. O que vocês estão fazendo é um grito por justiça, liberdade e retomada da democracia. O que acontece hoje com o presidente Lula é uma agressão a todo o povo pobre brasileiro que não tem como se defender. E quando se percebe que o judiciário está tomando decisões ao arrepio da lei, fica a convicção de que não tem saída para o pobre, para o camponês e o proletário, porque não há fidelidade da justiça à lei”, lamentou Ariovaldo Ramos.

O gesto extremo dos grevistas também alcançou repercussão junto aos ministros do STF. Após terem sido recebidos pelo ministro Ricardo Lewandowski e ter um representante presente em diálogo de organizações – sociais, artísticas e intelectuais – com a presidenta do STF, Cármen Lúcia, os grevistas foram recebidos neste 23º dia de greve pela ministra Rosa Weber em seu gabinete. A exceção foi a grevista Zonália Santos, que na noite anterior teve complicações em seu quadro de saúde e foi aconselhada a ficar em repouso. Segundo porta-vozes, a ministra Rosa Weber ouviu atentamente as considerações dos militantes. E, apesar dos grevistas já terem reforçado o pedido para serem recebidos pelo ministro Luis Barrosos anteriormente, foi a chefe de gabinete do ministro, Renata Saraiva, que recebeu os grevistas na antessala do gabinete e acolheu os pleitos apresentados nesta quarta-feira (22). No entanto, os militantes fortaleceram a necessidade do diálogo com o ministro Barroso. 

No início da noite, foi realizado o ato inter-religioso em frente ao STF para consolidar as atividades do 23º dia da Greve de Fome. Excepcionalmente, o ato aconteceu sem a presença dos grevistas que estavam reunidos, no mesmo momento, com a ministra Rosa Weber e a chefia do gabinete do ministro Luis Barroso. Dentro do STF, a articulação seguiu intensa, enquanto do lado de fora a palavra de ordem seguia aguerrida por democracia e justiça. 

O Frei Wilson Zanatta, Capuchinho, e o Reverendo Luis Sabanay, da Igreja Presbiteriana, conduziram o ato inter-religioso em frente ao STF enquanto os grevistas estavam reunidos com a ministra Rosa Weber e destacaram que a palavra de Deus celebra a vida dos oprimidos. “Que a vida dos pobres seja clareada por Deus e que os homens injustos tenham coração mole para que possam fazer justiça para tanta gente que vive em sofrimento”, pontuou. 

O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Ronald Ferreira dos Santos, participou do ato para expressar total apoio dos militantes que defendem o Sistema Único de Saúde (SUS), que segundo ele, foi uma importante conquista do povo brasileiro. “É preciso respeitar a soberania da vontade popular, expressada nas pesquisas, em que o Lula tem a maioria dos votos para presidente. Por isso, só existe um caminho, ele é Lula Livre. Essa luta dos grevistas representa a defesa da democracia. Neste tempo em que estamos vivendo, dois elementos são fundamentais: a defesa da vida e da democracia”, ratificou. 

No ato, a professora Cátia Garcia, que trabalha no sistema prisional brasileiro, declamou o poema «Hoje eu durmo no cárcere», que retrata a trajetória do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e as conquistas que ele proporcionou ao país no período de sua gestão. A leitura também trouxe reflexão sobre a denúncia da prisão ilegítima de Lula.

A professora aposentada, Dina Marilene, relatou que todos os dias ao passar pela Esplanada, a caminho da faculdade dos seus filhos, relembra a luta do ex-presidente Lula para transformar o Brasil e pede misericórdia à Deus. “Entre as lutas de Lula, ele só queria que nós, brasileiros, tivéssemos três refeições ao dia. Por isso, neste ato por justiça no STF ressalto a palavra de Isaías 40:31 que fala “…os que esperam no senhor renovarão as suas forças”. Essa é a minha esperança, porque hoje nós sabemos quem são os inimigos do nosso país. Vamos acreditar e tomar as ruas novamente. Acompanhei a luta dos grevistas no sétimo dia e hoje estou aqui novamente. Algumas vezes é preciso radicalizar em defesa de uma causa. Nosso país voltou para o mapa da fome e isso não é de Deus”, ressaltou. 

A militante Irene Madeira ratificou que o momento é de ruptura no país. “Precisamos saber qual é o nosso lado. Se os progressistas ganharem essa vitória e preciso ter claro que esse é apenas um passo e, portanto, precisamos seguir na luta. Com a força de todos juntos, vamos em frente”, enfatizou. 

Apoio por justiça no STF

Em vídeo, movimentos Sociais e Sindicais da América Latina expressam sua solidariedade aos grevistas. Além dos amigos da Terra América Latina e Caribe; Sindicatos Globales (Confederação Sindical de Trabalhadores/ as das Américas, ISP Regional Américas, UNI Américas); FES Sindical e Via Campesina. (https://www.youtube.com/watch?v=YFNVKP3R7t4

Paralelo ao ato inter-religioso, militantes e dirigentes de Belo Horizonte/MG se uniram em ato de solidariedade aos grevistas. Manifestantes estiveram reunidos em frente ao Palácio da Justiça, no Centro da capital mineira, para uma vigília e cerimônia religiosa. Com bandeiras, faixas, velas acesas e música, eles demonstraram apoio e respeito aos militantes. 

Por Comunicação a Greve de Fome 
Fotos: Michelle Calazans

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