Se o dia anterior foi de fortes emoções e muita atividade – com a visita de lideranças, artistas, delegações parlamentares e até um prêmio Nobel – o dia seguinte foi mais calmo para Jaime Amorin, Sérgio Görgen, Gegê Gonzaga, Zonália Santos, Rafaela Alves e Vilmar Pacífico (ambos há 17 dias sem alimentação) e Leonardo Soares (há 9 dias sem alimentação). A exceção foi o ato inter-religioso do dia, que passou a ser realizado no final da tarde, em frente ao Supremo Tribunal Federal.
Logo cedo a professora e presidenta licenciada da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de Minas Gerais, Beatriz Serqueira, fez uma visita aos grevistas. “Estou aqui para trazer todo nosso apoio e afeto político aos grevistas de fome e à sua decisão de colocar a vida na pressão e na luta para que esse golpe de estado se interrompa”, afirmou. A dirigente, vinculada à Frente Brasil Popular, que acompanhou a audiência com a ministra presidenta do STF, Cármen Lúcia, dois dias antes, voltou a cobrar publicamente do poder judiciário uma postura de isenção, voltada ao seu real papel de resguardar a constituição e defender o povo: “Pedimos apenas que os ministros se pautem de forma justa, que o poder judiciário atue como precisa atuar e não como partícipe do golpe como tem feito desde 2016”, acrescentou.
Durante o dia foram intensificadas por parte da equipe de apoio os contatos com autoridades vinculadas ao poder judiciário, no sentido de reforçar os pedidos de audiência protocolados pelos grevistas junto à cada gabinete individualmente. Até o momento apenas o ministro Lewandowski recebeu o grupo todo e Cármen Lúcia recebeu uma delegação de lideranças na qual estava Frei Sérgio. Espera-se que outros dois ministros possam receber os grevistas nesta sexta-feira (17), mas ainda não há confirmação destas agendas.
A mobilização popular tem crescido, assim como a vinculação de pessoas públicas, lideranças populares e artistas por todo o Brasil. O cantor Pero Munhoz – criador da “Canção da Terra” publicou um vídeo em que manifesta seu apoio e reforça as fileiras de trabalhadores e trabalhadoras que se sentem representados pelo ato de resistência praticado pelos sete. “Manifesto meu apoio aos grevistas de fome, reforço a posição destes guerreiros e guerreiras que pedem por justiça ao STF, pela defesa da soberania nacional, pelos direitos básicos como educação e saúde, bem como pela libertação do presidente Lula”, afirmou. Para Munhoz esse momento histórico requer engajamento de todos os setores populares: “Digo a todos e todas que neste momento nós não podemos nos omitir”.
O poeta e escritor Pedro Tierra também se manifestou, através de uma carta pública, onde afirma que “o Brasil tem a alma encarcerada” a partir das decisões que tem sido tomadas depois que se conduziu o processo de judicialização da política e politização do judiciário: “Nunca como nestes dias a infâmia vestiu a toga para iludir os olhos da gente comum e fazer-se passar por Justiça”, expressa no texto. Nunca um divórcio tão profundo separou o pesado aparato concebido para prestar o serviço judiciário, dessa noção elementar que nos diferencia dos animais e funda as sociedades humanas: a noção de Justiça”.
No final da tarde os grevistas se deslocaram até a frente do STF onde realizaram ato inter-religioso celebrado pelo frei capuchinho Vilson Zanatta, encerrado à luz de velas, representando o início de uma espécie de vigília que deverá se repetir ao longo dos próximos dias, sempre às 18 horas, na Praça dos Três Poderes. A Polícia militar tentou impedir a realização do ato, alegando que a orientação que haviam recebido dos seus superiores indicava o impedimento da instalação de barracas no local. Depois de uma negociação entre representantes dos grevistas, acompanhados por uma advogada que estava à serviço no STF e somou-se aos esforços do grupo, se construiu um acordo para que o ato fosse realizado e os grevistas pudessem ficar abrigados sob duas tendas que já haviam sido instaladas ali.
Por Adilvane Spezia e Marcos Corbari | MPA e Rede Soberania