No dia 2 de novembro milhares de trabalhadores (as) se manifestaram em defesa das águas do rio Arrojado, afluente do Rio Corrente, ocupando as fazendas Rio Claro e Curitiba, de propriedade da empresa de agronegócio Igarashi, no município de Correntina, na região Oeste da Bahia. Os camponeses denunciaram a destruição do Cerrado para o plantio de monoculturas e o consumo desproporcional de água das duas fazendas, que consomem aproximadamente 100 vezes mais água do que a população da sede do município.
O Instituto Estadual de Meio Ambiente (INEMA) concedeu à fazenda japonesa, em janeiro de 2015, o direito de retirar do rio Arrojado uma vazão de 182.203 m³/dia, durante 14 horas/dia, para a irrigação de 2.539,21 hectares (ha). A outorga é uma das centenas concedidas em todo oeste baiano.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), este volume de água é suficientes para abastecer por dia mais de 6,6 mil cisternas domésticas de 16.000 litros na região do Semiárido. Agrava-se a situação ao se considerar a crise hídrica do rio São Francisco, quando neste momento a barragem de Sobradinho se encontra com o volume útil de 2,84%.
A disputa pela água não é isolada em Correntina, toda a região Oeste da Bahia passa pelos mesmos problemas, desde a década de 70, quando se iniciou a expansão do agronegócio e se agravou com a chegada das empresas estrangeiras. Além das empresas japonesas, há ainda americanas, holandesas e portuguesas, que através da violência e omissão dos órgãos competentes realizam grilagem de terras que já somam mais de 2 milhões/ha expropriado dos camponeses e ribeirinhos com uso da força.
O resultando de tantos abusos são assassinatos de trabalhadores, 106 mil ha de cerrado desmatado e mais de 17 rios e riachos que já secaram. “As empresas estrangeiras que atuam na região roubam as terras, secam os rios e levam para seus países o lucro das exportações. Nossa luta é em defesa das nossas águas e por nossa soberania”, afirma Andréia Neiva, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens.
A região é disputada ainda por empresas de geração de energia elétrica que ameaçam as comunidades com o objetivo de construir na região 39 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH´s) em um potencial de mais de 100 PCH´s, colocando em risco os rios Carinhanha, Corrente, Grande e Preto, principais contribuintes com as águas do rio São Francisco na Bahia, responsáveis por até 90% de suas águas no período seco.
“Nossa indignação é ver nossas criações morrerem, nossa roça secar, as rodas d´água não darem conta de matar nossa sede e o estado não faz nada. Nossos rios não podem ser vistos como fonte de fazer dinheiro, são fonte de vida”, indigna-se Florisvaldo Pereira, ribeirinho do município de Coribe.
Além de omisso, o governo do estado da Bahia cedeu às pressões da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e diversas Associações de Irrigantes e, por meio da Polícia Civil e Militar, tenta criminalizar a manifestação do dia 2 de novembro fortalecendo a narrativa da grande mídia de ato terrorista.
No entanto, a resposta veio no dia 11 de novembro, quando mais de 12 mil pessoas saíram às ruas contra a criminalização da luta na região e em defesa das águas. Diversas faixas e cartazes com dizeres contra a violência, em defesa do cerrado, da água e da vida eram facilmente vistos na manifestação.
“A luta no Oeste da Bahia nos dá ânimo, em momentos de desalento na conjuntura nacional, acreditar no povo, na sua ousadia e disposição de se levantar contra a exploração das multinacionais demonstra ser a condição para garantir nossos direitos e mudar nossa realidade”, opina Moisés Borges, também militante do MAB.