Na programação oficial, a abertura do 8º Encontro Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) está programada para as 16 horas da próxima segunda-feira (2), que contará com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entretanto, para os atingidos pela Usina Hidrelétrica Belo Monte, o evento começou na tarde desta quinta-feira (28).
Os 120 militantes, divididos em três ônibus, terão que enfrentar três dias de viagem e mais de três mil quilômetros entre as cidades de Altamira (PA) e a capital carioca. Mas o que não falta é animação.
Durante o caminho, já haverá uma demonstração em pequena escala da organização que será feita durante o Encontro. Antes mesmo de sair de território paraense, foi escolhido um coordenador e uma coordenadora por ônibus, equipe de saúde e de segurança. Além disso, a caravana carrega uma cozinha itinerante que será montada no alojamento no Rio de Janeiro.
Para Alexania Rossato, integrante da coordenação nacional do MAB, essa auto-organização dos atingidos demonstra o caráter do evento. “Nosso encontro é realizado por nossas próprias mãos. Para além da discussão política, o encontro é também um momento de aprendizado e de fortalecimento da união entre os militantes. Fazemos a nossa comunicação, cozinhamos, montamos a estrutura e cuidamos de nossas crianças na Ciranda”, explica.
Traçar o futuro
Com o tema “Água e energia com soberania, distribuição da riqueza e controle popular”, o Encontro reunirá em torno de 3.500 pessoas no Terreirão do Samba (Rua Benedito Hipólito, 66 – Centro do Rio de Janeiro), entre os dias 2 e 5 de outubro.
De acordo com Luiz Dalla Costa, também integrante da coordenação nacional do MAB, a escolha da data não foi feita aleatoriamente. No mês de outubro deste ano completam-se 100 anos da Revolução Russa, que sustentou um sistema alternativo ao capitalismo por décadas.
“A experiência soviética mostrou que era possível sair do socialismo científico e criar de fato um sistema alternativo ao capitalismo, chegando a abarcar mais de um terço da população mundial. Com todas as suas contradições, esse regime soviético criou grandes avanços para a humanidade e queremos justamente fazer uma avaliação crítica e trazer esse exemplo histórico para os dias atuais”, afirma.
Nos 26 anos de história, o MAB sempre realizou os encontros nacionais como espaços para debater a situação específica das populações atingidas, analisar a conjuntura política nacional e internacional, e deliberar os próximos passos do movimento.
Desde a última edição, ocorrida em setembro de 2013 com aproximadamente três mil atingidos no município de Cotia (SP), ocorreram mudanças políticas significativas no país e no cenário internacional.
“Sofremos um golpe de estado que retirou uma presidenta democraticamente eleita. As consequências já começaram a aparecer: perda de direitos, desemprego, criminalização da luta popular e crescimento do conservadorismo. Em relação às populações atingidas, desde o último encontro vivenciamos o crime de Mariana, o desmonte da legislação ambiental e a corrida dos capitalistas para se apropriarem dos nossos rios”, rememora Dalla Costa.
De acordo com a liderança, esse é o espaço para avaliar o último período histórico, mas principalmente para traçar os próximos passos de atuação do MAB.
Programação
Na segunda-feira (2), ocorrerá a abertura oficial do Encontro, com a presença de aliados do campo popular e sindical, além da presença ilustre do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O evento começa as 16 horas no Terreirão do Samba.
Na terça-feira (3), acontecerá o Dia Nacional de Luta pela Soberania, que está sendo organizado juntamente com a Plataforma Operária e Camponesa da Energia e Frente Brasil Popular. No Rio de Janeiro, serão duas manifestações, uma prevista para as 11 horas na sede da Eletrobras, e a outra para as 14 horas em frente ao prédio da Petrobras, que contará também com a presença de Lula.
Já os dias 4 e 5 de outubro serão mais voltados à organização interna do movimento, com debates e palestras no Terreião do Samba.