Brasil: Entrevista do MST a Aleida Guevara «Um povo não pode viver sem ter segurança na justiça social de seu próprio país»

Em visita no Armazém do Campo-SP, na noite desta segunda-feira (1),  Aleida Guevara, médica pediatra cubana, filha de Ernesto Che Guevara e Aleida March, demonstrou preocupação com o golpe no Brasil, a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com a ameça de fascismo que cresce no país.

Para Guevara a resposta para essa onda conservadora que ameaça a já frágil democracia brasileira deve vir das ruas e do povo unido e mobilizado.

Ela cita as mobilizações organizadas por mulheres que levaram milhões de pessoas às ruas do país e do mundo no último sábado (29).

“Fazia anos que eu não via tanta gente nas ruas em diferentes cidades de uma só vez. Foi uma coisa impressionante! Isso significa que o povo tem sentimentos, há que usar essa força para lutar por um futuro melhor para todos, depende de vocês”.

Acompanhe:

Recentemente foi aprovado o rascunho do que será a maior a maior reforma constitucional de Cuba nos últimos 40 anos. Como você enxerga esse processo?

São várias as mudanças apresentadas na nova Constituição cubana. Nem um estado é capaz de suportar, mas um estado socialista não pode deixar 500 mil pessoas sem trabalho. Então, o que aconteceu neste momento foi provoca essas pessoas que estavam sem trabalho para que pudessem trabalhar por conta própria. Essa é uma das coisas que precisam ser mudadas dentro do texto original. Por outro lado, tínhamos uma lei de inversão que estava muito restrita, para isso, precisamos de flexibilidade em algumas coisas. E mudar a constituição que não era modificada há décadas, é um passo importante para isso.

É uma reforma bem expressiva, são 113 artigos modificados, 87 acrescentados e 11 textos eliminados da Constituição original. O que motivou essa alterações?

As mudanças e adequações são importantes dentro de um processo revolucionário. Estão chegando algumas figuras novas dentro do Estado cubano como, por exemplo, o primeiro ministro que há anos não existia. Também está sendo discutido o tempo de permanência de nossos dirigentes nos cargos, além da idade e de várias outras coisas. Temos projetos de lei que estão sendo discutidos pelo povo, essas discussões geram análises e propostas. Essas propostas serão analisadas e depois a Assembleia Nacional fará um texto com tudo o que foi proposto. A partir disso, esse mesmo povo irá às urnas para aprovar ou não a nova Constituição. É um processo, por isso, ainda temos um longo tempo de trabalho pela frente.

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Foto: Luara Dal Chiavon 

Atualmente no Brasil a Constituição Federal tem sido gravemente ferida. De que maneira podemos nos espelhar no processo cubano para passar por esse período de crises profundas e de golpe?

É importante nos darmos conta de algumas coisas. As Constituições da América Latina em geral precisam de mudanças, portanto, se um governo quer mudar de verdade, a primeira coisa que deve fazer é mudar a Constituição. No caso do Brasil, o que me preocupa e chama atenção, é que um presidente tenha sido condenado à prisão sem nenhuma causa. Não existe nenhuma prova do porque ele [Lula] foi condenado, então, o que devemos nos perguntar nesse momento é que se isso acontece com uma figura internacionalmente conhecida, o que o homem e a mulher do Brasil podem esperar?

Com que justiça as pessoas mais simples podem contar? É um verdadeiro absurdo! Eu penso que algo tem que ser feito nesse momento, porque um povo não pode viver sem ter segurança na justiça social de seu próprio país. Nesse sentido, é muito importante a mobilização popular e vocês têm demonstrado isso.

Nos últimos dias aconteceu uma mobilização de mulheres que foi extraordinária. Fazia anos que eu não via tanta gente nas ruas em diferentes cidades de uma só vez. Foi uma coisa impressionante! Isso significa que o povo têm sentimentos, há que usar essa força para lutar por um futuro melhor para todos, depende de vocês, claro, mas há confiança.

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